19 nov 2018

Stealthings – O hábito de tirar o preservativo no meio da relação sexual sem o consentimento

Venho percebendo com maior frequência em minha atuação clínica a ocorrência de uma nova forma de violência sexual: relatos de interações sexuais em que o parceiro, sem o consentimento da outra pessoa, tira o preservativo.

Essa perigosa prática, chamada de “stealthing”, é impulsionada muitas vezes pelo prazer da dominação, de machucar o parceiro, ou mesmo por pura maldade.

A justificativa de que se trata de simples brincadeira também mascara distorções psicológicas e comportamentais como o desejo de vingança, raiva, depressão, frustrações ou sentimentos negativos. Nesses casos a prática do “stealthing” é utilizada como válvula de escape.

Em geral, as reclamações mais comuns sobre o uso da camisinha, que ela incomoda, aperta ou tira a sensibilidade (veja no meu site a matéria que escrevi sobre camisinha), não são suficientes para respaldar a decisão de trair a confiança mútua da relação.

A questão é maior, perpassa o simples incômodo físico do uso da camisinha e se fixa em um espectro psicológico mais abrangente, cultural, do machismo, do prazer decorrente da recusa da igualdade entre os gêneros e imposição da hierarquia e dominação.

A vítima sofre com o risco de gravidez indesejada e contaminação por doenças sexualmente transmissíveis (DST), podendo implicar graves consequências físicas e emocionais.

Se o ato já ocorreu, é importante buscar ajuda nas primeiras 72 horas, com atendimento hospitalar, para prevenir e tratar com a profilaxia pós-exposição (PEP).

Ao perceber que não consegue lidar sozinha com a situação, sentir-se insegura e com medo para novos e possíveis relacionamentos, casuais ou não, deve a vítima procurar ajuda profissional, como a psicoterapia.

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